Morreu António Cunha, pioneiro da música de dança em Portugal
"A true pioneer of the portuguese Rave movement and founder of a label that became our biggest and most formative influence during the 90's: Kaos Records".
O fundador da Kaos Records, António Cunha, morreu neste sábado, 14 de Janeiro, em Lisboa. O DJ, figura tutelar da música de dança portuguesa, à qual deu os primeiros impulsos no início dos anos 1990, não resistiu a um cancro. Tinha 49 anos.
“Perde-se um pioneiro, fundador da primeira editora da música de dança em Portugal”, lamenta Miguel Marangas, que trabalhou durante três anos com António Cunha na Kaos. “Fiquei chocado”, diz o proprietário da Mellow Management, ao PÚBLICO. Há cerca de duas décadas, António Cunha “deu início a um movimento”, em Coimbra, quando lançou a Kaos Records. Com ela abria-se também “a primeira janela de oportunidade para uma série de produtores serem editados”, frisa Marangas. DJ Vibe, parte da dupla Underground Sound of Lisbon (com Doctor J), foi um deles. Cunha e Vibe chegaram a ser sócios na Kaos, logo no início: promotor e DJ unidos sob a mesma chancela, à imagem do que acontecia em países como o Reino Unido. A ideia foi de António Cunha, quando ninguém o estava a fazer em Portugal. Vibe, ainda que relutante, aceitou o convite e a história pôs-se em marcha.“Era uma pessoa que gostava de fazer as coisas em primeira mão, gostava de arriscar”, afirma DJ Vibe, ao PÚBLICO. “Um pioneiro”, acrescenta, “como amante da música, como pessoa”. “Foi importante na minha vida profissional – e não só por termos sido sócios na Kaos, onde lançou imensos produtores nacionais e [através da qual] teve influência na indústria discográfica. Foi a primeira pessoa que se lembrou de contratar um DJ para trabalhar numa discoteca em que não era residente.”
A importância de António Cunha estende-se ainda à “cena de clubbing”. Portugal recebeu pela primeira vez, nas festas organizadas por António Cunha, nomes como Jeff Mills, Herbert, Masters At Work ou DJ Harvey. Já no clube Rocks, no Porto, em 1995, promoveu a estreia em solo nacional dos Underworld. O Rocks foi, aliás, um espaço paradigmático da noite dos anos 1990. O responsável? António Cunha. DJ Vibe: “Toda a gente passava por lá, não só do norte, mas de Lisboa também. Marcou a noite e muitos DJ nacionais”. Nesse processo, António Cunha acabou por impulsionar “intercâmbios entre DJ portugueses e internacionais”, lembra Miguel Marangas. O que conduziu à internacionalização da produção nacional. Depois de assumir o seu papel central na música de dança portuguesa dentro de portas, a Kaos Records fê-lo também fora. O trabalho de António Cunha – que começou como DJ em Coimbra, no States, ainda nos anos 1980 – é muito elogiado por Miguel Marangas, que lhe gaba a persistência de manter a Kaos Records activa, quase 20 anos depois de com ela ter arrancado, em 1992. “Falámos há pouco. Tinha projectos na calha.” via Jornal O Público
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